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última atualização: 27/maio/2022

história da VALSA

batemos a marca dos 4 anos de VALSA (uhuuu!) 

 

como em todo ano novo, é importante fazer uma retrospectiva, como um exercício para lembrar daquilo que nos motivou e nos motiva, mas também para ajudar a mirar no que queremos para o futuro, o que faz sentido para nós 3 (Marina, Nika e Thiago) - profissionalmente e pessoalmente - como e com quem queremos crescer.

 

essa é uma cronologia-diário-desabafo, onde refletimos e partilhamos com vocês, que nos acompanham desde que abrimos como uma associação sem fins lucrativos lá na esquina mais difícil de chegar da Penha de França (haja fôlego!) e com quem acabou de chegar nas nossas vidas e não faz a mínima ideia de como viemos parar aqui. senta que lá vem história…

 

a nossa trajetória pode ser dividida em 4 fases:

✴ A PRIMEIRA VALSA ✴

maio/2018 a dezembro/2019 (1 ano e 7 meses)

quando tudo começou…

 

a VALSA foi concebida em 2018, por nós duas (Marina e Nika, amigas desde sempre), por diversos motivos pessoais que partilhamos - sonhos, frustrações, desejos - mas a principal causa era a falta que sentíamos de um lugar de acolhimento, seguro, que promovesse artistas independentes (locais e imigrantes), com boas opções de comidas e bebidas. um lugar para se estar todos os dias.

 

nosso maior desafio:  não éramos do meio, não conhecíamos ninguém, estávamos há pouco tempo na cidade e tínhamos um orçamento bem limitado rs. encontramos um espaço na Penha de França e achamos ótimo por ser perto de um miradouro, ter uma montra grande e a renda ser acessível. 

 

o espaço todo foi concebido por nós, desde conceito, projeto, decoração, cores, layout, instalação de equipamentos, passando por menu e escolha de produtos. entramos em contato com algumas pessoas e lugares que admirávamos, apresentamos o projeto e firmamos parcerias. e assim nasceu a VALSA. nós duas fazíamos tudo: programação, booking, preparo de alimentos, contato com fornecedores, compras, atendimento, recepção, serviço, limpeza, contabilidade, administração, comunicação e gestão.

 

100% da nossa fonte de renda vinha do faturamento de comidas e bebidas. vendíamos apenas cerveja artesanal, vinho natural e comidas de pequenos produtores com um preço de venda bem baixo, já que o nosso plano era democratizar e tornar esse consumo mais acessível - mesmo que o público por muitas vezes não entendesse a nossa escolha e sentisse falta de sagres ou tosta mista hahaha. os custos desses produtos eram altos, então a margem era pequena e a faturação dava apenas para pagar os custos fixos e variáveis. a entrada dos eventos era gratuita e pagávamos um valor simbólico para artistas, além de passar o feijão, que sempre acabava complementando o cachê.

 

nessa época, abríamos de quarta a domingo, das 16h às 22h (6 horas) e trabalhávamos umas 2 horas administrativas de casa ou da rua por dia. terça-feira trabalhávamos umas 3 ou 4 horas por dia, para resolver questões logísticas e administrativas. no começo nós duas íamos pra VALSA todos os dias, depois começamos a dividir - uma abria a outra fechava - ou alternar quem ia trabalhar. no fim das contas, cada uma trabalhava 40 horas em média por semana. sendo uma associação, nós não tínhamos salário e nem contribuímos com a segurança social. então no fim do mês a gente fazia um balanço, guardava um pouco no fundo de caixa para qualquer perrengue e, se havia lucro, dividíamos entre nós duas. tivemos meses que saímos no zero, mas normalmente dava para tirar uns 200€ cada. nesses tempos a nossa hora de trabalho valia em média 1,25€. 

 

ainda em 2018, tivemos um divisor de águas: o concerto do Fernando Catatau. ele é amigo da Nika e estava de passagem pela cidade. a casa estava cheia, todo mundo sentado no chão, bem pertinho e vidrado na guitarra do Catatau, vibe boa demais. foi in-crí-vel: nesse dia deu para sentir como era especial o que estávamos fazendo!

 

foi divisor de águas porque nosso público aumentou - as pessoas estavam sacando a nossa proposta - e algumas artistas passaram a nos notar. começaram a surgir diversas oportunidades de artistas do Brasil que estavam na área e queriam tocar na nossa casa - mesmo sem ter a mínima noção de como a estrutura era pequena - era engraçado, mas no fim as pessoas amavam tocar lá, exatamente por ser um espaço pequeno e intimista, todo mundo se sentia em casa. e o público fazia questão de contribuir com a caixa do feijão. eram tempos bons e a gente tava muito feliz com o trabalho, com a rede de apoio que conseguimos criar e com o alcance da VALSA. muito massa!

 

saímos em revistas, jornais, começamos novas parcerias e projetos que iam além “do básico”, como ser sede para eventos de outras iniciativas e festivais, usar o espaço para gravar sessões especiais com artistas que amamos etc. o trabalho começou a ficar cada dia mais intenso, mas o fato de não conseguirmos pagar nossas contas pessoais continuou presente (remar e não sair do lugar). a Nika trabalhava como part-time em outro lugar e a Marina conciliava com um estágio e uns freelas.

 

para melhorar a situação financeira, decidimos fazer um teste e mudar nosso menu. em meados de 2019 escolhemos produtos mais acessíveis, diminuímos o preço e conseguimos aumentar o volume de vendas. ainda assim não foi suficiente. estávamos beeem cansadas e fomos levando assim até o fim de 2019, quando sentamos para decidir se iríamos fechar ou nos reinventar. adivinhem só o que escolhemos? hehe

 

fizemos uma reunião para avaliar tudo o que já havíamos passado, fazer perguntas ao nosso público e encontramos uma forte demanda: comida! não por acaso, todos os eventos de pizza que já tínhamos feito com o Thiago ~ na época ainda como Pizzandante, Pizzaria Itinerante ~ foram um sucesso. nós amávamos a pizza, trabalhávamos muito bem juntes e as pessoas sempre pediam mais. não tinha como ser diferente e convidamos o Thiago para entrar pro time no fim de 2019. ELE DISSE SIM!

 

✴ A VALSA DA ESPERANÇA ✴

janeiro/2020 - março/2020 (2 meses e pouco)

começamos o ano com gás, energia e esperança, colocando em prática o plano que desenhamos junto com a Ana Possas para dar uma nova vida a nossa pequena associação, com caminhos mais estruturados em relação a marca, proposta e valores.

 

fizemos um novo investimento (dentro do que estava no nosso alcance), garimpamos novas peças de mobiliário para deixar a casa mais confortável, improvisamos uma cozinha para as pizzas, aumentamos a equipa, encontramos o nosso protótipo de curadoria ideal e pela primeira vez fizemos fotos profissionais e a Aline Macedo conseguiu captar e transmitir a nossa essência em imagens cheias de vida que usamos até hoje. implementamos o cartão MIGUE da VALSA, começamos a fazer pães, focaccias e abrir por mais horas na semana - inclusive no almoço. 

no segundo mês desse novo formato, conseguimos pela primeira vez  - depois de quase 2 anos de VALSA - tirar um salário mínimo. além do quesito financeiro, percebemos que a pizza soma MUITO (alô VALSA taurina!) valor ao nosso trabalho e tem tudo a ver com nosso conceito.

 

eis que o que é bom dura pouco e o mundo parou. 

 

✴ SEGUINDO O BAILE (COM O MUNDO EM PAUSA) ✴

abril/2020 - março/2021 (1 ano)

 

pandemia e confusão. o fechamento repentino de portas colidiu com desperdícios, gastos inevitáveis e o cancelamento dos eventos programados. tivemos a sorte de contar com uma comunidade sólida que esteve conosco, mesmo que a distância, dando força com a compra de vouchers e cartões MIGUE de forma remota e participando dos cursos online que organizamos. enquanto isso acontecia, tentamos negociar a renda do espaço - conseguimos parcelar apenas 1 mês -  construímos o nosso site e implementamos o sistema de take away de pizzas. 

 

negociamos pagamentos, revisamos acordos, filtramos fornecedores, parceires e cortamos os custos até de onde não dava. as soluções foram várias, mas não suficientes. aplicamos para inúmeros apoios, mas não conseguimos nenhum - principalmente por termos sido associação sem fins lucrativos por tanto tempo, sem resultados "comprováveis" perante aos órgãos governamentais. 

 

começamos a reabrir gradualmente em Maio 2020 e nos primeiros meses mais restritos em relação a lotação, horários e venda de bebidas alcóolicas, inventamos o Bailinho - eventos seguros para pouquíssimas pessoas, aos finais de semana, com preços fechados que incluíam comes, bebes e um mínimo repasse para artistas, de forma que tivéssemos pouco a perder. tentamos emplacar os outros dias para encontros privados, fizemos cowork, testamos brunch, mas nada trouxe resultados consideráveis, por várias razões. vimos as pessoas ainda muito receosas de sair de casa, principalmente para estar em espaços fechados e nós não tínhamos esplanada.

 

por sorte ou por acaso, conseguimos nos juntar a alguns peixes grandes da programação cultural ao redor do país no CIRCUITO, para pedir apoios para a sobrevivência das casas de espetáculos, artistas e profissionais da área. as nossas demandas foram atendidas pela CML e recebemos um apoio para a manutenção da nossa sala por 3 meses, pagando alguns dos nossos custos fixos como renda, contabilista, água, luz, internet e POS, além do cachê de 150€ para cada elemento que atuasse dentro da programação do projeto (artistas e equipe técnica). alguma luz no fim do túnel - maravilha!

a curadoria da VALSA uniu artistas de diferentes áreas, em espetáculos criados especialmente para o projeto. 

 

vale deixar claro que, durante todo esse período, nós não recebemos nem 1 cêntimo de salário e assim foi até a próxima fase. como fizemos? Thiago continuou a dar aulas online, Nika e Marina recorreram aos suportes que foram possíveis - familiares, empréstimos etc.

 

no fim do ano, recebemos a notícia que para a renovação do contrato de arrendamento do nosso espaço na Penha de França, com término em Março, os valores seriam ajustados. ao colocar na ponta do lápis, vimos que,  pela logística do "novo mundo" e por questões financeiras, mesmo com todo o esforço e resistência não seria possível seguir onde estávamos. a opção era arrendar um novo espaço que pudéssemos pagar ou fechar portas.

✴ CORAL ✴

março/2021 - atual (pouco mais de 1 ano)

 

como diz a canção grude-delícia do momento "a gente até balança mas não cai, bebê"...
então depois de muito matutar em conversas com nossas migues, nos demos conta que já não fazia sentido existir e trabalhar pra crescer se não fosse de forma coletiva. por isso, o CORAL nasceu - formado por nós, Café Mortara e Artesanalis Bottle Shop, que passavam por situações semelhantes a nossa.

 

estivemos no lugar certo, na hora certa e encontramos o local perfeito na intersecção da Graça, com a Penha e o bairro dos Anjos. o espaço estava no esqueleto e precisava de obras (casas de banho, elétrica, hidráulica, extração de fumo e todo o resto!). acionamos a nossa rede novamente e abrimos um financiamento coletivo para que os trabalhos fossem possíveis. o crowdfunding deu certo, arrecadamos o que precisávamos e com isso construímos as 2 salas que temos hoje: Recife, uma comedoria acolhedora e Cardume, dedicada à cultura, onde acontecem os eventos.  

 

abrimos as portas da sala Cardume em Maio, em formato soft opening, e depois, oficialmente abrimos as portas do espaço por inteiro no dia 2 de Junho. hoje somos 7 membros do coletivo (6 que trabalham integralmente no espaço) que fazem entre 40-50 horas semanais cada. hoje também contamos com o apoio da Priscila, que trabalha com a gente como part-time.

 

em 2021, mesmo com as infinitas mudanças de regras, conseguimos bater a marca de mais de 130 eventos culturais, com quase 3000 pizzas e mais de 1500 massas servidas, além de uns bons 1200L de cervejas artesanais. nos 6 meses de funcionamento, conseguimos pagar todas as contas, sendo que apenas em Setembro não foi possível pagar algumas coisas, incluindo salários.

 

a virada do ano foi mais morna, mas fizemos o que deu - até prendas de Natal culturais criativas inventamos. também começamos a apostar em novas parcerias externas - festa do Alkantara, Baile da Colombina, ocupamos a Casa do Brasil de Lisboa, fizemos pop ups de pizza por aí, prestamos consultorias, apoiamos na produção de diversos eventos e fizemos até um mini festival de carnaval. 

hoje em dia, estamos com a programação cultural mais apurada que nunca, com muita coisa maravilhosa acontecendo, MAS é bom lembrar que ainda somos pequeninos - a sala onde fazemos eventos comporta 30 pessoas sentadas (e umas 50 pessoas, bem apertadinhas, em pé). 

 

esse será o primeiro verão "normal", com a volta real do turismo na cidade, os grandes festivais, novas casas aparecendo. a cultura está ganhando um novo gás, artistas estão conseguindo maiores oportunidades e é muito bom ver isso acontecer. estamos animadíssimessssss!

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